Hoje, observando duas amigas conversando, ouvi quando a
primeira, tentando consolar a segunda que se encontra em tratamento de câncer, disse:
“Ah, não se preocupe com isso, o cabelo agora nem é o importante. O importante
é você se tratar, ficar boa logo. O cabelo depois cresce de novo. Tudo vai
ficar bem.”
Fica evidente, nesses momentos, que quem dá esse tipo de
conselho não tem a menor ideia do que a pessoa está passando. Que ela está
insegura, com medo, se sentindo mal devido aos efeitos colaterais, deprimida
pela falta de cabelos e mutilações. Não tem como se manter feliz o tempo todo!
E mais uma vez constatei que, às vezes, o não dizer pode ser
mais forte do que dizer alguma coisa.
Se eu pudesse dar alguns conselhos às pessoas que têm
parentes, amigos próximos passando por isso, diria o seguinte:
O cabelo É IMPORTANTE SIM! Claro que as cicatrizes e
mutilações IMPORTAM. Se preocupar com a
doença é algo totalmente INEVITÁVEL.
Também não minta, não diga à pessoa que ela está muito bem,
que nem parece estar em tratamento. Ninguém é burro e todos têm espelhos em
casa.
Não pense que todo doente está a fim de receber visitas
porque precisa ser consolado, isso não é verdade absoluta. Cada caso é um caso.
Observe o seu ente querido, perceba como ele está se sentindo. Tem momentos em
que o paciente não quer ver ou falar com ninguém. Normalmente ele elege alguém
próximo, de confiança, para ajudar nesse momento. E pronto, basta.
Mas quando a visita for aceita, às vezes um olhar afetuoso,
um gesto de carinho, um abraço apertado alimentem e preencham mais o coração do que a mente e falem mais que as palavras.
Não se demore demais na visita: 20 minutos é suficiente para
demonstrar seu carinho. Mais que isso, você pode cansá-lo.
Deixe o paciente guiar a conversa: se ele quiser falar da doença, ouça. Se quiser falar de morte, escute também. Se ele quiser chorar,
deixe-o chorar evitando a tradicional frase “Não chore”. Se ele preferir
conversar trivialidades, participe suavemente. Não tenha a pretensão de que seus conselhos são mais importantes que ouvi-lo.
Atenção: a não ser que sinta abertura e até interesse por
parte do doente, NÃO USE DESSE MOMENTO PARA PROMOVER SUAS CONVICÇÕES
RELIGIOSAS! Respeite as crenças (ou descrenças) do doente. Ter pessoas no entorno que insistem em
acreditar que suas "sábias" palavras de fé são imprescindíveis pode ser um ledo
engano. Às vezes isso pode ser até mesmo uma tortura.
E para encerrar, vou relatar aqui a experiência que, para
mim, foi a mais importante de todas numa ocasião em que estive gravemente doente:
na época meu filho tinha apenas 12 anos, uma criança. Enquanto toda a família e
os amigos se revezavam em me dizer palavras positivas, oferecer orações e dar
conselhos do que fazer e o que não fazer, ele simplesmente se deitava ao meu lado, na minha cama, pegava na minha mão e ficava ali, quietinho, apenas
fazendo um carinho nos dedos por cerca de 30 minutos. Depois se levantava e ia
fazer suas coisas. Cada vez que isso aconteceu, foi como se eu o ouvisse dizer com sua voz silenciosa: mãe aconteça o que acontecer, eu estou aqui!