sexta-feira, 10 de novembro de 2017

AMANHÃ A GENTE VEM DE NOVO

Mãe e filha (autor desconhecido)

Viajei a noite inteira.

Estava com mamãe, e eu queria levá-la para ver o pôr do sol mais legal que já tinha visto.

Numa gruta, onde a fresta do sol entrava e batia numa cruz esculpida numa pedra, colocada na beira de um pequeno lago.

Os riscos cravados nela transformavam o raio numa miríade de cores que se refletiam na água, transformando tudo num espetáculo pirotécnico. 

Começamos o caminho: passamos por estradinhas, mata-burros, casinhas pitorescas, passagens secretas. 

Encontramos um senhor simpático e paramos para conversar um pouco. Ele contou que havia tanto tempo que morava alí... Nos convidou para irmos lá depois, conhecer a casa dele e comer alguma coisa. 
Seguimos.

Mergulhamos na água gelada do riachinho para passarmos por debaixo da pontezinha de madeira (justo mamãe que, por um trauma de infância, tinha pavor de água).  Refrescamos do calor que sentíamos.

Mamãe estava linda!

Erramos o caminho e acabamos chegando atrasadas, o sol já havia se posto.

- Amanhã a gente vem de novo, mãe - falei enquanto pegávamos o caminho de volta, planejando outras viagens para fazermos junto com papai.

Acordei às 5:16, feliz...

E chorei.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

ÀS VEZES


Às vezes eu rio, às vezes eu choro
Às vezes eu danço, às vezes eu corro
Às vezes sou sol, às vezes sou lua
Às vezes me encontro, às vezes me perco
Às vezes eu grito, às vezes sussurro
Me calo às vezes, outras vezes eu falo demais
Às vezes eu gosto, noutras desgosto, depois torno a gostar
Às vezes eu caio, depois me levanto
Às vezes sou isso, às vezes aquilo
Mas sempre, sempre sou sua.

(praquele que ÀS VEZES me entende, mas SEMPRE me aceita)


(Ilustração de Nicolas Gouny)

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O QUE NÃO DIZER PARA QUEM ESTÁ DOENTE


Hoje, observando duas amigas conversando, ouvi quando a primeira, tentando consolar a segunda que se encontra em tratamento de câncer, disse:
“Ah, não se preocupe com isso, o cabelo agora nem é o importante. O importante é você se tratar, ficar boa logo. O cabelo depois cresce de novo. Tudo vai ficar bem.”

Fica evidente, nesses momentos, que quem dá esse tipo de conselho não tem a menor ideia do que a pessoa está passando. Que ela está insegura, com medo, se sentindo mal devido aos efeitos colaterais, deprimida pela falta de cabelos e mutilações. Não tem como se manter feliz o tempo todo!

E mais uma vez constatei que, às vezes, o não dizer pode ser mais forte do que dizer alguma coisa.

Se eu pudesse dar alguns conselhos às pessoas que têm parentes, amigos próximos passando por isso, diria o seguinte:

O cabelo É IMPORTANTE SIM! Claro que as cicatrizes e mutilações IMPORTAM.  Se preocupar com a doença é algo totalmente INEVITÁVEL.

Também não minta, não diga à pessoa que ela está muito bem, que nem parece estar em tratamento. Ninguém é burro e todos têm espelhos em casa.

Não pense que todo doente está a fim de receber visitas porque precisa ser consolado, isso não é verdade absoluta. Cada caso é um caso. Observe o seu ente querido, perceba como ele está se sentindo. Tem momentos em que o paciente não quer ver ou falar com ninguém. Normalmente ele elege alguém próximo, de confiança, para ajudar nesse momento. E pronto, basta.

Mas quando a visita for aceita, às vezes um olhar afetuoso, um gesto de carinho, um abraço apertado alimentem e preencham mais o coração do que a mente e falem mais que as palavras.

Não se demore demais na visita: 20 minutos é suficiente para demonstrar seu carinho. Mais que isso, você pode cansá-lo.

Deixe o paciente guiar a conversa: se ele quiser falar da doença, ouça. Se quiser falar de morte, escute também. Se ele quiser chorar, deixe-o chorar evitando a tradicional frase “Não chore”. Se ele preferir conversar trivialidades, participe suavemente. Não tenha a pretensão de que seus conselhos são mais importantes que ouvi-lo.

Atenção: a não ser que sinta abertura e até interesse por parte do doente, NÃO USE DESSE MOMENTO PARA PROMOVER SUAS CONVICÇÕES RELIGIOSAS! Respeite as crenças (ou descrenças) do doente.  Ter pessoas no entorno que insistem em acreditar que suas "sábias" palavras de fé são imprescindíveis pode ser um ledo engano. Às vezes isso pode ser até mesmo uma tortura.

E para encerrar, vou relatar aqui a experiência que, para mim, foi a  mais importante de todas numa ocasião em que estive gravemente doente: na época meu filho tinha apenas 12 anos, uma criança. Enquanto toda a família e os amigos se revezavam em me dizer palavras positivas, oferecer orações e dar conselhos do que fazer e o que não fazer, ele simplesmente se deitava ao meu lado, na minha cama, pegava na minha mão e ficava ali, quietinho, apenas fazendo um carinho nos dedos por cerca de 30 minutos. Depois se levantava e ia fazer suas coisas. Cada vez que isso aconteceu, foi como se eu o ouvisse dizer com sua voz silenciosa: mãe aconteça o que acontecer, eu estou aqui!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A VIDA DA GENTE



Sabe quando a gente separa no prato aquele pedaço especial do bolo? Aquele, sabe, com a cereja em cima? Daí a gente vai pela borda comendo em volta, com todo o cuidado, guardando para depois o prêmio especial, para só ao final saborear lenta e delicadamente o pedaço mais gostoso, sentindo no palato a ganache de chocolate da cobertura, a baba de moça que escorre do recheio, huuummmm.
 

Mas eis que, ao espetar o garfo no último pedaço, este escorrega do prato e cai no chão! Que ódio, que raiva que dá, vontade de apanhá-lo do chão rapidamente, olhando para os lados para ver se tem alguém nos observando e jogar o pedaço inteiro na boca. Porém nossa consciência e os ensinamentos da nossa mãe falam mais alto e você recolhe o pedaço agora sujo e, resignado, o despeja na lixeira.
Você reconheceu o episódio? Assim também anda sua vida? Talvez já esteja na hora de você, vez em quando, comer o pedaço especial primeiro, ao invés de guardá-lo para depois. Às vezes a gente merece começar pela melhor parte!

quinta-feira, 7 de março de 2013

O QUE ESPERAMOS DOS NOSSOS FILHOS




Constantemente recebo em minha escola de música pais buscando aulas para seus filhos pequenos.  Normalmente faço o atendimento de rotina para um bom encaminhamento: pergunto qual a idade, porque ele está buscando a aula de música, se a criança já demonstrou algum interesse específico, etc. Tendo apurado estas informações, sugiro algum curso adequado para a faixa etária e aptidão daquela criança: musicalização, flauta, teclado ... Mas muitas vezes ouço como resposta dos pais o questionamento por outros instrumentos. “Ele quer guitarra ou bateria” (a criança tem só 4 anos), “Violino não pode?”, “Mas dizem que Mozart começou a tocar aos 4 anos incompletos!”
Ok, o parâmetro é Mozart? Então vamos lá:
1 – Mozart era filho de um músico exímio, excelente violinista e cravista;
2 – Sua irmã mais velha, pouco conhecida, também era uma excelente cravista e foi justamente por influência dela que Mozart começou seus estudos musicais tão cedo;
3 – Mozart tomava suas lições em casa com o próprio pai, sob olhar atento da mãe, DIARIAMENTE;
4 – A quantidade diária de horas de dedicação do menino Amadeus ao instrumento era relativamente igual ao que as crianças de hoje dedicam à TV, computador e games;
4 – Antes dos 6 anos completos Mozart iniciou suas turnês, sempre acompanhado pela mãe que lhe fazia tudo, inclusive suas malas, o trabalho dele era exclusivamente o de tocar. E assim foi até os 17 anos do rapaz. Ou seja: foram mais de 11 anos da mãe dedicados a isso.
Pergunta: os senhores estão dispostos a esta empreitada?
Se formos avaliar a vida de todos os gênios da nossa atualidade, também veremos o papel fundamental e a dedicação irrestrita de seus pais. Vamos então exemplificar com prodígios bem próximos de nós, cuja habilidade é o domínio do futebol, assunto que todos nós temos conhecimento: Romário, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Messi e agora Neymar. Todos eles, sem exceção, tiveram do seu lado um pai ou mãe (ou os dois) que se dedicaram para que seus filhos se tornassem quem são. Eles têm grande habilidade com a bola? Sim têm muita habilidade, mas sem o apoio dos pais, provavelmente seriam hoje rapazes que, felizes,  jogam uma pelada todo domingo para relaxarem de uma semana de trabalho estressante.
Essa reflexão me leva a pensar sobre o que nós pais estamos esperando de nossos filhos. Sim, existe muita, muita expectativa, eu mesma já me peguei pensando que meus filhos poderiam ter sido isso ou aquilo, porque certa vez eles demonstraram uma grande habilidade para alguma coisa, mas que depois acabaram deixando aquilo de lado. Temos  muitos, muitos sonhos para os nossos filhos, mas nem sempre estamos dispostos a colocá-lo em prática. Porque se o colocarmos em prática, deixa de ser sonho e se torna uma responsabilidade e isso significa trabalho, esforço, persistência: compromisso.
Hoje eu tenho a certeza de que o que eu espero dos meus filhos é que eles sejam felizes! E se um deles quiser tocar violão ou violino aos 4 anos de idade, não pode? Pode sim, mas é preciso que eu entenda que tenho que ampará-lo e que, caso ele perceba no meio da trajetória que não era bem isso que ele queria, eu o apoie e esteja disposta a começar tudo de novo.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

FELICIDADE





Quer ser feliz?
Não, não fique rico, não compre um carro, não viaje, não tenha um filho, não plante uma árvore, não escreva um livro... não!
Não antes de gostar do que já tem!

domingo, 9 de dezembro de 2012

O QUENTE E O MORNO

Tem quem acredite que o morno é sem graça: a vida morna é frouxa; café morno é xôxo; comida morna é quase fria. Eu diria que o morno é seguro, você pode não sentir tanto prazer, mas também não corre o risco de queimar a língua, ou adoecer a garganta e de quebra deixa de engordar uns quilos, já que tal temperatura diminui em muito o paladar. Lembra do leitinho morno que a vovó nos dava antes de dormir e que nos proporcionava um sono tranquiiiilo? Ok, isto podia até ser psicológico, mas que funcionava, ah isso funcionava...
Sempre tive admiração pelas pessoas mornas, elas sempre me passaram a sensação de tranquilidade e domínio das próprias rédeas. Mas contaram para nós que temos que ser QUENTE, FERVENDO!!! e a gente acreditou. Agora passamos a vida como loucos, botando lenha na fogueira...